Quando Berta Loran, ícone do humor nacional, faleceu na noite de domingo (28/09/2025) no Hospital Copa D'Or, em Copacabana, Rio de Janeiro, o Brasil perdeu uma das maiores referências da comédia televisiva. Aos 99 anos, a atriz encerrou quase oito décadas de carreira que atravessaram teatro, cinema e, sobretudo, TV Globo, espalhando risos de geração em geração. A notícia, confirmada pelo hospital e veiculada inicialmente por Fábia Oliveira, do portal Metrópoles, já repercute nas redes sociais, com fãs e colegas homenageando sua trajetória.
Vida e trajetória de Berta Loran
Nascida Basza Ajs em 23 de março de 1926, na então Polônia, Berta chegou ao Brasil ainda menina, junto a pais e cinco irmãos, para escapar das perseguições nazistas. A família estabeleceu‑se num sobrado da Praça Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro, onde a jovem começou a se envolver com teatro aos 14 anos, influenciada pelo pai, também ator e alfaiate. Nos clubes da comunidade judaica, ela cantava e dançava ao lado da irmã, antes de migrar para o teatro de revista, que na época era o grande termômetro da cultura popular.
Cinema: da chanchada ao clássico brasileiro
A primeira incursão de Berta no cinema ocorreu em 1955, quando o diretor Watson Macedo a escalou para Sinfonia Carioca, dentro da era das chanchadas. O sucesso abriu portas, e logo ela apareceu em Papai Fanfarrão e Garotas e Samba, ambos comandados por Carlos Manga. Embora o cinema não fosse seu foco principal, essas experiências consolidaram sua versatilidade e a expuseram a públicos de todas as classes sociais.
Televisão: a rainha da Escolinha do Professor Raimundo e demais programas
A partir dos anos 60, Berta migrou para a TV, onde encontraria seu verdadeiro palco. Programas como Balança, Mas Não Cai, Zorra Total, Faça Humor, Não Faça Guerra e Satiricon a receberam como convidada regular, mas foi na Escolinha do Professor Raimundo que ela ganhou o personagem Manuela D'Além Mar, uma portuguesa de jeito inconfundível. Outro sucesso foi Frosina, a empregada da novela Amor com Amor Se Paga, que virou bordão na década de 80.
Legado e impacto na comédia feminina
Além do talento, Berta abriu caminhos para mulheres em um universo cômico, até então dominado por homens. Seu estilo irreverente, sarcasmo delicado e sotaque carregado tornaram‑se marca registrada e inspiraram gerações de humoristas, como Tatá Werneck e Marilu Bueno. Em 2016, o produtor cultural João Luiz Azevedo publicou a biografia Berta Loran: 90 anos de humor, que reuniu depoimentos de colegas, diretores e fãs, mostrando como a artista usava o riso como forma de resistência e identidade cultural.
Reações e homenagens
Imediatamente após o comunicado do Hospital Copa D'Or, personalidades da TV Globo, como o apresentador Jair Rodrigues, e o ator Roberto Leal divulgaram mensagens emocionadas nas redes: “Berta foi uma luz que brilhou por décadas, ensinando que o humor pode ser ferramenta de união”. O Ministério da Cultura também enviou nota oficial, ressaltando a importância da artista para a história da televisão brasileira.
O que vem a seguir: preservação da memória
Com a partida de Berta, discussões sobre a preservação de arquivos televisivos ganharam força. A Fundação Biblioteca Nacional já anunciou a digitalização de todas as gravações em que ela participou, garantindo que futuros estudiosos possam analisar seu estilo e técnica. Além disso, a Escola de Arte Dramática da UFRJ planeja criar um curso “Comédia e Identidade”, inspirado nas metodologias de trabalho da artista.

Perguntas Frequentes
Qual foi o papel mais marcante de Berta Loran na TV?
O personagem que mais ficou na memória do público foi a portuguesa Manuela D'Além Mar, da Escolinha do Professor Raimundo. Seu jeito carregado e as piadas ácidas conquistaram gerações e ainda são citados em quadros humorísticos atuais.
Como Berta Loran chegou ao Brasil?
Nascida em Varsóvia, Polônia, ela imigrou com a família judia em 1937 (algumas fontes apontam 1939) para fugir das perseguições nazistas, estabelecendo‑se no Rio de Janeiro, onde iniciou sua carreira artística.
Qual a importância de Berta para as mulheres no humor?
Ela foi pioneira ao ocupar espaços cômicos dominantemente masculinos, mostrando que mulheres podem ser protagonistas de piadas e satíricas. Seu estilo abriu caminho para nomes como Tatá Werneck, que citam Berta como inspiração.
Onde serão guardadas as obras de Berta Loran?
A Fundação Biblioteca Nacional já anunciou a digitalização integral de seus programas, garantindo acesso gratuito ao público e a pesquisadores interessados em estudar sua contribuição para a cultura brasileira.
Qual a faixa etária que mais se identifica com o trabalho de Berta?
Embora seu humor tenha evoluído ao longo das décadas, gerações de 30 a 60 anos costumam lembrar com carinho das novelas e programas dos anos 80 e 90, enquanto o público mais jovem redescobre seu legado através de reprises e memes nas redes.
Comentários
Leilane Tiburcio
É realmente doloroso perder uma das maiores referências do humor brasileiro.
Berta Loran nos ensinou que a risada pode ser um ato de resistência.
Seu legado vai continuar inspirando novas gerações de artistas.
Jessica Bonetti
Claro que tudo isso é mais uma estratégia para fortalecer a narrativa da grande mídia, que sempre busca transformar luto em espetáculo.
Não podemos aceitar que a tristeza seja usada como ferramenta de manipulação.
É preciso manter o senso crítico.
Maira Pereira
Berta Loran foi uma pedra angular do humor televisivo brasileiro, marcando quase oito décadas de carreira.
Sua trajetória começou ainda na infância, quando imigrou da Polônia para o Brasil, carregando uma bagagem cultural rica que influenciou suas interpretações.
Nos palcos de revista dos anos 50, aprendeu a arte de improvisar, habilidade que se tornaria essencial para seus papéis na TV.
Ao transitar para o cinema, participou de chanchadas que capturaram o clima descontraído da época, como “Sinfonia Carioca”.
Mas foi na televisão que sua voz encontrou o maior eco, desde os programas de humor dos anos 60 até a icônica Escolinha do Professor Raimundo.
O personagem Manuela D’Além Mar, com seu sotaque carregado e sarcasmo delicado, tornou-se um marco da cultura popular.
Além disso, a personagem Frosina, na novela “Amor com Amor Se Paga”, mostrou sua versatilidade ao transitar entre humor e drama.
Berta quebrou barreiras ao ocupar espaços tradicionalmente dominados por homens, abrindo caminho para futuras humoristas como Tatá Werneck e Marilu Bueno.
Sua presença em programas como “Zorra Total” e “Faça Humor, Não Faça Guerra” consolidou um estilo irreverente que ainda ecoa nas redes sociais.
A artista também usou o humor como forma de resistência contra a opressão, especialmente durante períodos políticos conturbados no Brasil.
Esse aspecto político de seu trabalho foi reconhecido em biografias e documentos acadêmicos que analisam a relação entre comédia e identidade cultural.
Além de seu talento, Berta trouxe à tona questões de identidade de imigrantes, refletindo sua própria história de fuga ao nazismo.
Ela se tornou um símbolo de resiliência, mostrando que o riso pode ser ferramenta de união entre gerações distintas.
Hoje, a Fundação Biblioteca Nacional está preservando seu acervo, garantindo que futuras gerações estudem sua linguagem única.
Assim, seu legado permanece vivo, influenciando não só humoristas, mas também escritores, cineastas e estudantes de artes cênicas.
É impossível imaginar a história da comédia brasileira sem reconhecer a contribuição inexorável de Berta Loran.
Joseph Tiu
Ao analisarmos a trajetória de Berta Loran, percebemos que, além do talento artístico, sua capacidade de adaptação, a persistência diante das adversidades, e o comprometimento com o público, foram pilares fundamentais;
essa visão equilibrada nos ajuda a compreender como artistas podem atravessar gerações, mantendo relevância, sem perder a essência da comédia, e ainda influenciando novos criadores.
Portanto, celebramos não apenas a artista, mas o impacto cultural que ela deixou, que ainda reverbera nas TV’s e nas redes sociais.
Eder Narcizo
Que despedida dramática, quase como cena de novela! 😢 Berta Loran fechará o palco, mas seu brilho continuará iluminando nossos corações. 🎭