Ginástica rítmica: Brasil faz história e leva prata inédita no Mundial do Rio

Ginástica rítmica: Brasil faz história e leva prata inédita no Mundial do Rio

Brasil faz história no Mundial do Rio

Demorou, mas chegou: o Brasil subiu pela primeira vez ao pódio de um Mundial adulto de ginástica rítmica. Em casa, no 41º Mundial disputado na Arena Carioca 1, no Parque Olímpico do Rio, o conjunto brasileiro levou a prata no geral por equipes com 55,250 pontos — atrás do Japão (55,550) e à frente da Espanha. O palco lotado, a atmosfera de final olímpica e um detalhe que virou símbolo dessa campanha: a série embalada por “Evidências” fez a arquibancada cantar junto do início ao fim.

Comandado por Camila Ferezin, o time formado por Sofia Madeira, Duda Arakaki (capitã), Nicole Pircio, Maria Paula Caminha e Mariana Gonçalves transformou a pressão de atuar em casa em combustível. O Brasil liderou boa parte do dia e só foi ultrapassado na reta final, numa disputa decidida por três décimos. A cada acerto de troca no alto, a cada risco bem-sucedido, a vibração das atletas se misturava aos gritos da torcida, que em coro repetia: “É prata! É prata!”.

O resultado é gigante por um motivo simples: o país jamais havia alcançado pódio em Mundial adulto da modalidade, apesar de já somar feitos em Copas do Mundo e outras competições. Camila não escondeu a emoção ao falar do “tamanho” dessa medalha. Segundo ela, era um objetivo desenhado há anos e, poder realizá-lo no Rio, torna tudo ainda maior. A capitã Duda vinha dizendo que competir diante dos brasileiros era um sonho vivido todos os dias — e o tablado confirmou o discurso.

Para quem não acompanha de perto, o “geral por conjuntos” soma as notas de duas rotinas com aparelhos diferentes. Os juízes avaliam dificuldade (o repertório técnico), artística (construção coreográfica, musicalidade) e execução (precisão dos movimentos). Numa final apertada, qualquer desequilíbrio, passo extra ou imprecisão numa troca aérea custa décimos preciosos. Foi nesse limite que o Brasil lutou ponto a ponto com duas potências tradicionais, Japão e Espanha.

Houve também um fator emocional nada trivial. Escolher “Evidências”, um clássico popular, aproximou as meninas do público. Não é só sobre animar a arquibancada: quando a trilha conversa com a plateia e a coreografia traduz essa energia sem perder limpeza e sincronia, o conjunto ganha presença cênica. Em um esporte em que os detalhes contam, essa conexão ajuda a sustentar a confiança nas passagens mais arriscadas.

Por que essa prata muda o jogo

Essa medalha não surgiu do nada. Em julho, o conjunto brasileiro já havia vencido, de forma inédita, a etapa de Milão da Copa do Mundo, superando justamente adversárias como Japão e China, e ainda levou bronze no aparelho “2 arcos e 3 bolas”. Aquela vitória virou um ensaio geral: deu lastro competitivo, mostrou que a equipe sabia pontuar alto e resistir à pressão em cenário grande.

Camila falou em “dimensão infinita” para definir o feito. Na prática, significa abrir uma porta que parecia trancada para o país. Mundial é a vitrine máxima da modalidade no ciclo, e um pódio muda a régua de comparação. A partir de agora, o Brasil deixa de ser surpresa para virar alvo de marcação. É bom e desafiador: os detalhes de construção das séries, a estabilidade nos lançamentos e a consistência de execução viram obsessão diária.

No tablado, o que se viu foi um conjunto amadurecido. As trocas longas — quando uma atleta lança muito alto e outra recebe no ponto exato, sem perder o desenho do grupo — apareceram limpas. A transição entre formações, com desenhos claros, reduziu o risco de cruzamentos tortos. E a leitura musical casou com a proposta coreográfica. Tudo isso sustenta nota de dificuldade e protege a execução, a parte da nota que “sangra” com erros visíveis.

O contexto também conta. Foi a primeira vez que o Brasil recebeu um Mundial de ginástica rítmica. Organizar o evento, colocar a Arena Carioca 1 no mapa da modalidade e ver a arquibancada abraçar a seleção dá um recado para a base: existe caminho, existe palco. Quem assistiu criança vai lembrar desse dia por muito tempo — e isso, em esporte, vale quase tanto quanto uma medalha.

A disputa contra o Japão e a Espanha foi, além de técnica, estratégica. Em duelos assim, a gestão de risco pesa: quanto arriscar para subir a dificuldade sem estourar a execução? O Japão foi quase cirúrgico, com poucas margens. O Brasil manteve a agressividade que vem marcando a temporada e, mesmo com a prata, saiu do tablado com a sensação de pertencimento no topo. O placar final — 55,250 a 55,550 — resume a batalha: uma prova decidida na casa dos detalhes.

Os nomes dessa campanha merecem destaque porque ajudam a entender o perfil do time. Duda Arakaki segura a liderança silenciosa de capitã. Sofia Madeira e Nicole Pircio têm presença firme nas trocas de maior risco. Maria Paula Caminha e Mariana Gonçalves equilibram fluidez e precisão nas passagens de ligação. É um conjunto de perfis complementares, o tipo de química que não se monta da noite para o dia.

Do lado de fora, a equipe técnica ajustou escolhas que parecem pequenas, mas fazem diferença. Equilíbrio no desenho das dificuldades corporais para não concentrar risco sempre nas mesmas atletas. Revisão fina de entradas e saídas de aparelhos para evitar perdas bobas. E um olhar atento para a narrativa das séries, que precisa ser clara para os jurados desde o primeiro compasso.

O efeito prático dessa prata? Muda a conversa daqui para frente. O Brasil se coloca no círculo central da modalidade e eleva a régua para os próximos compromissos internacionais. As adversárias já viram que, quando a engrenagem roda, a nota vem. E a torcida entendeu que empurrar faz diferença. No fim da noite, a Arena Carioca 1 ainda ecoava o canto que virou trilha sonora do dia: “É prata! É Brasil!”.

  • Local: Arena Carioca 1, Parque Olímpico do Rio de Janeiro
  • Prova: geral por conjuntos (soma de duas rotinas)
  • Placar: Japão 55,550; Brasil 55,250; Espanha em seguida
  • Time do Brasil: Sofia Madeira, Duda Arakaki (capitã), Nicole Pircio, Maria Paula Caminha e Mariana Gonçalves
  • Técnica: Camila Ferezin

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