Morte de Yu Kongjian em acidente aéreo no Pantanal: perda para a arquitetura sustentável

Morte de Yu Kongjian em acidente aéreo no Pantanal: perda para a arquitetura sustentável

Acidente fatal no Pantanal deixa um ícone da arquitetura sustentável entre as vítimas

Na noite de terça‑feira, um pequeno avião que sobrevoava a região do Pantanal, em Mato Grosso do Sul, tentou pousar em uma fazenda a cerca de 100 km de Aquidauana. O piloto encontrou dificuldades e a aeronave acabou se chocando contra o solo, matando todos a bordo: o piloto Marcelo Pereira de Barros, dois cineastas brasileiros – Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Jr. – e o arquiteto chinês Yu Kongjian, de 62 anos.

Yu era professor da Universidade de Pequim e fundador do College of Architecture and Landscape, além de ser autor do conceito de "cidades esponja" (sponge cities). Essa abordagem propõe que as cidades absorvam água da chuva em parques, lagos e áreas verdes, ao invés de despejá‑la em redes de esgoto e concreto, reduzindo risco de alagamentos e ajudando a combater as mudanças climáticas.

Impacto global do projeto

Impacto global do projeto "cidades esponja"

Desde que a China adotou a ideia como política pública, centenas de municípios passaram a implementar infraestruturas verdes que armazenam água em tempos de chuvas intensas. O método também ganhou adeptos nos Estados Unidos, na Rússia e em diversas capitais europeias, onde autoridades urbanas buscam formas mais resilientes de lidar com eventos climáticos extremos.

Para Yu, a prática urbana vai além da funcionalidade: ele defendia que áreas verdes melhoram a qualidade de vida, promovem a biodiversidade e reduzem a pegada de carbono das cidades. Seu trabalho foi reconhecido com prêmios internacionais e citado em relatórios das Nações Unidas sobre adaptação climática.

O acidente ocorreu enquanto o grupo participava de um projeto de documentação audiovisual sobre a relação entre arquitetura e conservação do Pantanal. Os cineastas brasileiros, conhecidos por produzir curta‑metragens que destacam a biodiversidade da região, estavam acompanhando Yu em visitas a áreas úmidas, onde ele planejava desenvolver estudos de caso para futuros projetos.

Autoridades brasileiras ainda não divulgaram o laudo preliminar que esclareça as causas do acidente. O Ministério da Aviação Civil informou que a investigação será conduzida pela Aeronáutica, que analisará registros de voo, condições climáticas e a manutenção da aeronave.

Fora do Brasil, líderes internacionais também manifestaram pesar. O vice‑presidente Geraldo Alckmin publicou mensagem nas redes sociais ressaltando a importância de Yu para o pensamento urbano sustentável. Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a perda representa um golpe para a luta contra as mudanças climáticas, destacando o papel pioneiro do arquiteto ao propor soluções que unem qualidade de vida e proteção ambiental.

Especialistas em planejamento urbano veem a morte como um alerta sobre a vulnerabilidade de profissionais que atuam em áreas remotas. “Essas missões de campo são essenciais para conectar teoria e prática, mas trazem riscos logísticos”, comentou Ana Paula Ribeiro, coordenadora de pesquisas da Fundação Getúlio Vargas.

Com a partida de Yu, universidades e institutos de pesquisa globais perderam um mentor cujo legado inspirava estudantes a buscar alternativas verdes para o futuro das cidades. Em Pequim, a comunidade acadêmica organizou um minuto de silêncio e prometeu criar um fundo de bolsas em seu nome, destinado a projetos de inovação urbana.

No Brasil, cineastas e ambientalistas planejam um documentário em homenagem ao arquiteto, que deverá abordar tanto sua trajetória quanto o impacto das cidades esponja nas áreas mais vulneráveis do planeta. A iniciativa conta com apoio de ONGs que lutam pela preservação do Pantanal, região que tem sofrido com incêndios e secas nos últimos anos.

Enquanto a família de Yu aguarda respostas oficiais sobre o acidente, o mundo da arquitetura e do urbanismo reflete sobre como garantir que suas ideias continuem a inspirar políticas públicas. O conceito de cidade esponja, que ainda está em fase de expansão, deve ganhar ainda mais força à medida que governos buscam estratégias resilientes para enfrentar eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes.

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