Uma combinação perigosa de chuva torrencial, ventos de até 100 km/h e ressaca no mar colocou a região metropolitana do Rio de Janeiro em estado de alerta máximo nesta segunda-feira, 13 de dezembro de 2025. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um aviso de risco muito alto para temporais, granizo e quedas de energia, enquanto a Marinha do Brasil alertou para ondas de até 4 metros entre Arraial do Cabo e Vitória. A situação é crítica: moradores da Baixada Fluminense, Costa Verde — onde ficam Angra dos Reis e Parati — e até áreas da zona oeste da capital vivem um dia de caos climático. A temperatura chegou a 36,8°C em Guaratiba, mas o calor foi engolido pela umidade e pela pressão da frente fria que se aproxima. O alerta vale até 10h desta terça-feira, mas já há relatos de deslizamentos em Nova Iguaçu e bairros da zona sul inundados antes mesmo do pico da chuva.
Chuva, vento e energia cortada: o que o Inmet prevê
O Instituto Nacional de Meteorologia classificou o evento como de “risco muito alto” — o segundo nível mais grave em sua escala. Isso significa que não se trata de uma chuva passageira, mas de um sistema meteorológico estável e intenso, capaz de gerar até 100 mm de precipitação em poucas horas. Em Duque de Caxias, já foram registradas rajadas de 89 km/h que derrubaram postes e interromperam o fornecimento em mais de 12 mil residências. O granizo, embora localizado, já foi confirmado em Teresópolis e Nova Friburgo, danificando telhados e carros. A preocupação maior, porém, é com a rede elétrica: o Inmet alerta que a combinação de vento forte e umidade elevada pode provocar curtos-circuitos em linhas antigas, especialmente na Região dos Lagos e no Noroeste Fluminense.
Mar em estado de alerta: a Marinha do Brasil emite aviso raro
Enquanto o interior do estado se prepara para a chuva, o litoral vive outro tipo de emergência. A Marinha do Brasil emitiu um aviso de “mau tempo” — um termo técnico que só é usado quando há risco real à vida humana no mar. As ondas, segundo dados do Centro de Hidrografia e Navegação da Marinha, têm altura significativa de 3,5 a 4 metros, com picos de até 6 metros em pontos expostos como Cabo Frio e Búzios. Os ventos, que variam de nordeste para norte, estão impulsionando a ressaca com força de furacão tropical. “É raro ver um aviso desse nível fora da temporada de ciclones”, afirmou um oficial da Marinha sob anonimato. O alerta vale até as 12h desta terça-feira e proíbe qualquer atividade recreativa na orla — inclusive pesca artesanal, que é vital para comunidades de Parati e Angra dos Reis. Já houve pelo menos três resgates de banhistas na praia de Copacabana na noite de segunda.
Sistema Alerta Rio: a capital em modo de crise
Na capital, o Sistema Alerta Rio — o sistema de monitoramento da prefeitura — confirmou que a chuva da noite de segunda foi a mais intensa desde janeiro de 2022. “Pancadas moderadas se tornaram fortes, com raios e ventania em menos de 40 minutos”, disse um meteorologista da equipe. Em Santa Teresa, um deslizamento de terra bloqueou a Rua Joaquim Murtinho, cortando acesso a 300 residências. O sistema já acionou 17 equipes de resgate e 12 abrigos de emergência, especialmente na zona norte e na Baixada. O que mais preocupa os técnicos é a saturação do solo: áreas que já sofreram com enchentes em 2023 estão novamente em risco. “Não é só a quantidade de chuva. É a velocidade com que ela cai”, explicou o coordenador do Alerta Rio. “O sistema de drenagem não aguenta esse volume em menos de duas horas.”
Quem está mais vulnerável?
As comunidades de baixa renda são as mais afetadas. Em Manguinhos, 18 famílias tiveram suas casas invadidas pela água. Em Nova Iguaçu, um barraco desabou durante a noite — ninguém se feriu, mas cinco crianças ficaram sem moradia. “A gente já perdeu tudo duas vezes. Não temos como recomeçar de novo”, contou Maria dos Santos, moradora da favela do Morro do Salgueiro. O poder público já iniciou a distribuição de cestas básicas e colchões, mas a logística é lenta. Enquanto isso, o transporte público sofre atrasos em todas as linhas que cruzam a Baixada. O metrô da linha 1 teve interrupções por três horas por causa de alagamentos na estação de São Cristóvão.
O que vem a seguir?
Apesar do alerta terminar às 10h desta terça-feira, meteorologistas avisam que o pior pode ainda vir. Uma nova frente fria já se forma no oceano e deve chegar ao estado na quarta-feira, 15 de dezembro, com mais chuva. O que acontece agora é um sinal claro: o clima extremo está se tornando a nova normalidade no Rio. Em 2020, a cidade teve 11 eventos de chuva intensa. Em 2025, já são 14 — e só estamos no mês de dezembro. “Não é mais questão de infraestrutura. É questão de sobrevivência”, disse a climatologista Dra. Lúcia Mendes, da UFRJ. “Precisamos de políticas públicas que reconheçam que o Rio não é mais o mesmo.”
Como se proteger?
- Evite áreas de risco: morros, córregos e regiões baixas
- Não dirija em ruas alagadas — 80% dos afogamentos ocorrem em veículos
- Desconecte aparelhos eletrônicos antes da tempestade
- Verifique o site do Sistema Alerta Rio e do Inmet a cada 30 minutos
- Se estiver na orla, saia imediatamente — a ressaca não avisa
Frequently Asked Questions
Como o alerta do Inmet difere do aviso da Marinha?
O Inmet foca nos riscos terrestres: chuva, granizo, ventos e quedas de energia, com alertas válidos para todo o estado. Já a Marinha trata exclusivamente do ambiente marítimo — ondas, ressaca e ventos sobre o oceano — e seu aviso cobre a faixa costeira entre Arraial do Cabo e Vitória. Embora haja sobreposição, os critérios e as consequências são diferentes: um pode não afetar o outro, mas quando acontecem juntos, o risco é multiplicado.
Por que a temperatura estava tão alta antes da chuva?
A aproximação de uma frente fria cria um efeito de “bomba de calor”: o ar quente e úmido fica preso antes da chegada da massa de ar frio. Isso eleva a sensação térmica e a umidade relativa do ar. Em Guaratiba, os 36,8°C não eram só temperatura — eram 92% de umidade. Isso torna o corpo humano incapaz de se resfriar naturalmente, aumentando o risco de insolação e desidratação antes mesmo da chuva cair.
Quais cidades estão em maior risco de deslizamentos?
As áreas com solos instáveis e pouca infraestrutura de drenagem são as mais vulneráveis. Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis têm histórico de deslizamentos desde 2011. Mas agora, Rio de Janeiro (especialmente os bairros de Santa Teresa, Lins de Vasconcelos e Jacarepaguá) também estão em alerta vermelho por causa da saturação do solo e da urbanização desordenada.
A Marinha pode interditar praias por conta da ressaca?
Sim, e já está fazendo isso. Embora a interdição oficial seja feita pela prefeitura, a Marinha tem poder de recomendação técnica e legal. Em casos de ressaca severa, como agora, as praias de Búzios, Arraial do Cabo e Ilha Grande são interditadas por decreto municipal com base no aviso da Marinha. A fiscalização é feita por guarda-vidas e por embarcações da Capitania dos Portos.
Há risco de apagão em larga escala?
Existe, sim. O sistema elétrico do Rio ainda depende de linhas aéreas com mais de 30 anos de uso. O Inmet já identificou 127 pontos críticos na rede, principalmente na Baixada e na zona oeste. Em 2022, uma tempestade semelhante deixou 1,2 milhão de pessoas sem luz por até 48 horas. Se a chuva persistir além do previsto, o risco de apagão regional é real — e as equipes de emergência já estão em alerta máximo.
O que os moradores podem fazer para ajudar?
Evitar jogar lixo em bueiros, manter calçadas limpas e ajudar vizinhos idosos ou com mobilidade reduzida são ações simples que salvam vidas. Também é essencial compartilhar apenas informações oficiais — boatos sobre alagamentos ou deslizamentos causam pânico desnecessário. O Sistema Alerta Rio e o Inmet são as únicas fontes confiáveis. Denuncie riscos pela app “Rio 1746” ou pelo telefone 1746.